Por uma Dieta Ancestral Benéfica para Humanos e o Planeta ou Por que a Agrofloresta Agrega Bovinos
Cattle Agroforestry in Brazil – an explanation.
Na nossa busca incessante por um futuro mais sustentável, nosso objetivo é migrar todos os bovinos do mundo para sistemas integrados de agrofloresta. Aqui, eles pastarão na grama em vez de serem alimentados com grãos, desfrutando de vidas livres e contentes em rebanhos.
Embora transformar padrões alimentares, crenças e percepções globais seja uma tarefa monumental, proporcionar vidas mais dignas para nossos rebanhos está ao nosso alcance.
O próprio ato de pastoreio transforma o ambiente, ciclando água e nutrientes. Em regiões que carecem da capacidade natural de ciclar nutrientes suficientemente, os bovinos desempenham um papel crucial em enriquecer e fertilizar ecossistemas inteiros.
Por exemplo, o Savory Institute classifica zonas planetárias em uma escala de fragilidade, demonstrando que em certas áreas, a ciclagem da “matéria cinzenta” (matéria orgânica) só pode ocorrer efetivamente quando rebanhos substanciais estão presentes. O estômago bovino e o microbioma intestinal desempenham o papel de solo em um sistema suspenso de ciclagem de nutrientes, especialmente onde existem limitações climáticas ou de solo.
Essencialmente, a pecuária inteligente e regenerativa pode alcançar neutralidade de carbono ou até mesmo tornar-se positiva em carbono. Pode proporcionar mais benefícios ambientais do que se não houvesse bovinos. A pecuária não é inimiga do meio ambiente; ao contrário, pode potencializá-lo.
Não apenas considerando a sequestro de carbono no solo, mais a formação de carbono húmico no subsolo a partir da mineralização dos sistemas radiculares das gramíneas, e ainda a ciclagem de nutrientes no solo devido à presença do rebanho em si (que não existiria com a mesma intensidade sem ele), mas também devemos levar em conta a tridimensionalidade da agrofloresta.
O conceito de estratificação na agrofloresta, ou camadas de produção de biomassa acima do solo, cria ‘níveis’ de carbono suspenso por hectare (unidade de área). Note que organizações de certificação/acreditação como a VERRA ainda estão longe de desenvolver métodos robustos ao considerar sistemas de produção complexos.
No Brasil, a Embrapa tem sido pioneira na integração de sistemas agrosilvipastoris, comumente referida como ILPF.
Essa abordagem inovadora experimentou um crescimento substancial nos últimos anos. A estratégia ILPF envolve a utilização simultânea de diversos sistemas de produção, incluindo agricultura, pecuária e silvicultura, dentro da mesma área geográfica. Essa integração ocorre por meio de vários métodos, como consorciação, sucessão ou rotação, resultando em resultados mutuamente benéficos para todas essas atividades agrícolas.
Além da rede ILPF (Associação Rede ILPF) no Brasil, desenvolvedores de sistemas agroflorestais complexos, exemplificados por organizações como a PRETATERRA (www.pretaterra.com), ganharam destaque notável no desenvolvimento de sistemas piloto tridimensionais mais sofisticados. Essas iniciativas foram realizadas em colaboração com importantes players do setor, como Vital Proteins, AGS Agronegócio Sustentável e o projeto Pasto Vivo da Luxor Agro, elevando o potencial da pecuária como um sumidouro de carbono a níveis sem precedentes.
Ao direcionarmos nosso foco para a nutrição e a economia circular de resíduos, torna-se evidente que a nutrição mais significativa está nos órgãos e ossos. Adotar a filosofia de “nose-to-tail” nos reconecta com nosso eu ancestral e com a utilização de cada parte do animal, não apenas os cortes “nobres” selecionados.
Num mundo que se esforça para alimentar sua crescente população, descartar essas partes como resíduos é moralmente inaceitável, especialmente dada a coexistência de obesidade e desnutrição.
Ossos e gorduras animais representam alimentos de densidade nutricional excepcionalmente alta. Na verdade, acredita-se que nosso salto em inteligência durante a evolução estava ligado ao consumo de tutano.
Essa transformação ocorreu à medida que aprendemos a usar ferramentas e quebrar ossos de carcaças, conforme explicado pelo Professor e arqueólogo alimentar Dr. Bill Schindler , criador da Modern Stone Age Kitchen, numa apresentação notável intitulada “Food Archaeology” no evento FRU.TO – Diálogos sobre Alimentação.
Na verdade, não devemos mais medir a comida apenas em quilogramas ou toneladas; é hora de direcionar nosso foco para avaliar a “nutrição” ou densidade nutricional. A verdadeira questão está em entender a relação nutriente-por-área, capacitando-nos desbloquear o potencial para otimizar a área produtiva da Terra. Esse conceito não apenas remodela nossa percepção de comida, mas também nos permite vislumbrar um uso mais eficiente e sustentável dos recursos do nosso planeta.
Entender profundamente as relações ecossistêmicas nos ajuda a superar concepções equivocadas. Note que descobertas escassas originadas de observações duvidosas nos levam a conclusões errôneas. Ao se referir a dados de produção de carne versus vegetais, os artigos se baseiam apenas em dados de confinamentos na América do Norte, não em bovinos criados a pasto na América e ao redor do mundo.
Além disso, a omissão de ponderar o consumo em relação aos elementos de produção é deliberada e malevolamente deixada de lado, como no caso da consideração do consumo de água para a produção de carne, de acordo com as evidências encontradas no livro “Sacred Cow“.
Em bovinos de pasto, essa água vem da chuva (sem irrigação) e não “consome” ou desvia efetivamente o recurso hídrico, como comumente se acredita, uma vez que a chuva cairia de qualquer maneira, com ou sem bovinos. No entanto, esterco e urina de vaca, que devolvem água e nutrientes ao solo, são completamente omitidos, ignorando a ciclagem de nutrientes dos rebanhos.
Ademais, entre uma série de concepções equivocadas, a mais alarmante é a crença de que a gordura saturada é a causa de mortes e ataques cardíacos. Pelo contrário, os alimentos industrializados processados, aliados a óleos vegetais processados (derivados de grãos), açúcar e carboidratos são os verdadeiros culpados. Muitos médicos falharam em acompanhar as pesquisas atuais. Estudos enganosos, impulsionados por uma agenda para promover margarina e óleos de soja e milho, propagaram essa narrativa falsa.
Nossos avós e bisavós não sofreram, na mesma taxa, de diabetes, obesidade e depressão. Essas aflições modernas resultam do consumo reduzido de gorduras animais e da ingestão excessiva de ácidos graxos ômega-6 (altamente inflamatórios), o verdadeiro instigador da dilatação arterial.
Estamos cientes de que pesticidas permeiam nosso ambiente, afetando tanto animais quanto plantas. No entanto, as pastagens, como Brachiaria sp. e outras gramíneas, recebem significativamente menos ou nenhum produto químico em comparação com soja, milho e outras safras. Consequentemente, o acúmulo de pesticidas em bovinos criados a pasto é praticamente negligenciável. Pelo contrário, o uso de pesticidas sistêmicos, incluindo o glifosato, no cultivo de soja (que permeia quase todos os aspectos de nossa oferta de alimentos) é alarmantemente alto. Este é o verdadeiro problema em questão.
Em conclusão, a principal ameaça que está causando estragos em nossos ecossistemas, solo e sociedade em geral é a monocultura de grãos destinados à produção de óleo vegetal, aliada à ração derivada do pacote agroquímico da agricultura industrializada em grande escala e aos impostores alimentares sintéticos.
Operações autênticas de agrofloresta devem priorizar a biodiversidade e incluir animais. Essa abordagem incorpora o conceito final de propriedade rural e resiliência, oferecendo-nos a chance de viver de maneira alinhada com nossas raízes ancestrais, de maneira saudável, harmoniosa e, acima de tudo, livre das amarras de um sistema imposto sobre nós.
Finalmente, apenas como um aviso legal, este artigo não endossa confinamentos, muito menos a industrialização dos processos de produção animal ou a desumanização da produção animal. Acima de tudo, o objetivo principal aqui, mesmo que contradiga agendas não científicas e concepções erradas comuns, é promover uma vida melhor, dignidade e bem-estar animal para todas as espécies atualmente produzidas como alimentos neste planeta. Agendas que falham em considerar abrangente, holística e rigorosamente dados científicos e empíricos para verdadeiramente entender o que faria sentido genuíno para a preservação da vida na Terra, promovendo maior equidade entre espécies e povos, provavelmente abrigam intenções questionáveis que não estão sinceramente preocupadas com o clima, a saúde humana ou o bem-estar animal.
Quem entre vocês está pronto para embarcar nessa jornada de autossuficiência e responsabilidade pela nossa planeta?
Insights são bem-vindos.