Agroflorestas em áreas com capoeira

Area de capoeira

Tenho um sítio em Garrafão, distrito de Santa Maria do Jetibá, ES, com altitude de 1.200m, com área de 25 ha, sendo 2,5 ha em mata nativa e o restante em capoeira, tem boa nascente com muita água, topografia ondulada de fácil mecanização e até irrigação por gravidade. Pretendo implantar um projeto de reflorestamento com castanha portuguesa, visando produção e crédito de carbono. Posso aproveitar a capoeira ou tenho que acabar com ela e recobrir o solo com outra vegetação?

– Pergunta do Wanderley Batista por email

O Wanderley nos enviou essa pergunta, que é tão interessante que será respondida em duas partes:

Sobre a lesgislação:

O primeiro passo que você tem que dar é entrar em contato com o órgão ambiental da sua região. Isso porque o entendimento da legislação ambiental/florestal dependerá da leitura do fiscal. Como sua propriedade está localizada na Mata Atlântica, que por ser bastante ameaçada e fragmentada, tem maior proteção ambiental, muito provavelmente você precisará de autorização para manejar a sua capoeira, caso ela seja antiga (ou seja, com mais de 5 anos em regeneração ambiental), mesmo que esteja fora da APP ou Reserva Legal, e apresentar um Plano de Manejo antes de poder realizar qualquer operação.

Vale ressaltar que é ótimo que você tenha essa área de capoeira na sua propriedade, pois isso significa que sua área está em processo de recuperação, ou seja, que seu solo está se recuperando, as plantas estão emitindo raízes e ciclando nutrientes em profundidade, tem produção de biomassa, cobertura do solo e sombreamento inicial. Para além da discussão sobre a legislação ambiental e florestal, que dependerá do procedimento legal que deverá ser seguido de acordo com o órgão ambiental da sua região, tecnicamente falando, o ideal é manejar essa área e existem duas opções para isso.

medição e identificação de espécies em capoeira
Equipe PRETATERRA em campo para medição e identificação de espécies em capoeira no noroeste de SP. Foto: PRETATERRA

 

Manejo da capoeira:

A primeira opção, para uma área de capoeira antiga (com mais de cinco anos de regeneração), após cumprir os trâmites legais necessários, como a elaboração do Plano de Manejo, envolve identificar as espécies pioneiras, lianas e trepadeiras, para que sejam manejadas seguindo a lógica da sucessão natural, ou seja, podar, triturar ou cortar essas plantas com motosserra, facão ou triturador para produção de biomassa. Essas são operações de risco que dão bastante trabalho, pois exigem a seleção de espécies e cuidado com as demais, mas são recompensadoras, pois após esse processo você poderá enriquecer a regeneração natural com espécies secundárias e aproveitar as espécies remanescentes. Após esse processo de poda seletiva para produção de biomassa, é hora de identificar as espécies secundárias ou de interesse comercial que sobraram. Esse mapeamento de indivíduos é importante para o planejamento do plantio de espécies exóticas comerciais, como por exemplo a castanha portuguesa. Essa espécie precisa de um espaçamento bastante grande, de 12x12m ou 15X15m, por isso, também será o momento de decidir como fazer o plantio de enriquecimento do sub-bosque ou quais outras culturas poderão fazer parte do seu sistema.

A segunda opção considera uma capoeira não tão antiga ou mais “fraca”, com menos de cinco anos. Nesse caso, dependendo do que a legislação ambiental e florestal permite, você poderá entrar na área com uma trincha ou triturador para utilizar todo o material como biomassa para cobertura de solo inicial, seguindo a lógica da adubação verde de fundação, na qual é feito o plantio adensado de espécies adubadeiras para trinchar no ano seguinte e obter uma cobertura de solo densa. Após trinchar todo o material, poderá ser realizada a marcação das linhas de plantio e planejamento do sistema.

 

Exemplo de manejo do sub-bosque utilizando uma motosserra
Manejando o sub-bosque com auxílio de uma motosserra em Bangka, Indonesia, 2019. Foto: Valter Ziantoni

A escolha por uma das duas opções dependerá do nível de regeneração que sua área se encontra, a consulta ao órgão ambiental da sua região e o quanto se está disposto a investir nesse processo, seja legalmente (apresentação do Plano de Manejo) ou operacionalmente. Todos esses fatores, começando pela visita ao órgão ambiental da sua região, deverão ser considerados para uma decisão assertiva e que seja benéfica para todos a longo prazo.

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