Recebemos a pergunta do Carlos, que é de Manaus e gostaria de implantar uma agrofloresta em 32 hectares, numa área que já é uma floresta. Ele deseja implantar cacau, açaí e um componente arbóreo em que utilizaria nativas, como cumaru, castanha, andiroba. O Carlos também comenta que pretende fazer um manejo florestal para retirada de alguns exemplares para uso comercial (madeiráveis) e que após esse manejo partirá para a implantação da agrofloresta nos 32 hectares, que tem como objetivo enriquecer a área e obter retorno econômico.
“Minha grande dúvida é em relação como realizar o manejo nesse 32 hectares para implantação da agrofloresta por se tratar de uma área de floresta já avançada. Pois gera muito material e requer muita mão de obra para organizar a área. Tenho que colocar mesmo todo material no chão para gerar o pulso de crescimento ou um manejo parcial de abertura de luz para cada talhão é suficiente para gerar o pulso?”
Oi Carlos, obrigado por sua pergunta. Como é uma situação complexa, iremos responder sua dúvida por partes:

Primeiro ponto, o manejo florestal em áreas nativas

Para realizar o manejo florestal é necessário apresentar um plano de manejo ao órgão ambiental do seu estado, cujo conteúdo deve incluir um inventário das espécies, ou seja, uma lista de quais espécies ocorrem, qual estimativa de quantidade das espécies que ocorrem e qual volume de madeira que irá ser retirada. A partir da finalização e aprovação deste Plano de Manejo pelo órgão ambiental, antes de colher as espécies de interesse, será necessário a realização de um censo, ou seja, um levantamento 100% da área de quais são as espécies que serão retiradas, a medição e volume de cada um dos indivíduos e o apontamento das áreas específicas em que você fará a retirada. Tanto o Plano de Manejo, quando a execução do manejo, são custosos, tanto tecnicamente (pois envolve a contratação de profissionais da área para acompanhamento técnico, redação do Plano de Manejo e os inventários), quanto operacionalmente. Tendo feito esse primeiro manejo para colher espécies para uso comercial, especialmente madeiráveis, vai ser criada uma relativa abertura de luz. Uma observação importante é que ao final deste processo, pode ser que apenas poucas árvores por hectare serão retiradas. De qualquer maneira, quando se faz retirada de árvores através do manejo florestal sustentável, é necessário fazer uma limpeza ou um corte de lianas ou trepadeiras com pelo menos um ano antes e é necessário identificar quais são as árvores do entorno e como será feita a queda da árvore com o mínimo de dano de abertura de clareira possível. Não é um processo simples nem fácil e tem que ser muito bem tecnicamente assessorado.

Segundo ponto, a conversão da área em agrofloresta

Como é uma área de floresta, você também vai precisar de Plano de Manejo a ser apresentado ao órgão de fiscalização ambiental do seu estado e de autorização do órgão antes de iniciar a conversão. O Plano de Manejo descreverá quais ações serão realizadas, qual a área, espécies, etc. Após a aprovação, um primeiro passo que pode ser dado é identificar o que são espécies que poderão ser retiradas para abertura de luz, como por exemplo, espécies pioneiras que já estão senis.
Abrindo uma clareira para implantação de um sistema agroflorestal na Floresta Amazônia no Pará. Foto: PRETATERRA.
 

Terceiro ponto, é necessário colocar todo o material no chão para gerar o pulso?

É necessário entender o custo benefício de realizar a pulsão, porque ao mesmo tempo em que é interessante que o material podado, triturado o máximo possível, fique em contato com o para decompor, alimentar microvida do solo, etc, essa é uma operação bastante custosa também. Uma solução seria fazer o manejo parcial: por exemplo, galhos finos, folhas e ramos de trepadeiras, a gente pode deixar no solo. Os galhos mais grossos podem ser retirados pra lenha ou algo assim, ou podem até ser queimados na área com muito cuidado e atenção em pilhas isoladas. Essa abertura, a retirada de indivíduos pioneiros ou de ciclo mais curto, indivíduos malformados, doentes, abre um pouco de luz e vai permitir que a gente entre com as espécies secundárias, como cacau, cumaru ou até a castanha e a andiroba. Isso pode ser feito, por exemplo, em linhas, para facilitar o entendimento do número de plantas por hectare que foram plantadas. O ideal é que esse enriquecimento da floresta seja feito de maneira sistematizada para facilitar a operacionalização, mas também para que a partir do número plantas por hectare, seja possível estimar a produção esperada.

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